Notas explicativas e símbolos

Canto I

1.1 O narrador é Dante - protagonista da história e autor do poema. O poema é uma narrativa alegórica, ou seja, o autor descreve situações que não devem ser interpretadas apenas pelo seu sentido literal. Portanto, o personagem Dante, o peregrino, pode também ter representação simbólica. A história pode ser uma espécie de sonho (ele fala que foi o sono, um cochilo que o levou à selva). Estudiosos da obra de Dante dizem que o Dante da história simboliza qualquer ser humano que, como ele, se encontra perdido naquela selva escura (que alegoricamente representaria o pecado - veja nota 1.3). Voltar

1.2 Cronologia da viagem: Dante diz que está "no meio do caminho da nossa vida". Isto pode ter vários significados mas também pode indicar que ele está com 35 anos (de acordo com os 70 anos reservados ao homem, segundo as filosofias da época). O ano, portanto, é 1300, pois Dante nasceu em 1265. Esta data também é confirmada em outras ocasiões, como no Canto XXI, onde também se confirma que a viagem ocorre na semana santa. Em várias ocasiões, no poema original, o autor descreve a posição das constelações e astros como forma de nos informar a hora e a data. Através dessas observações, podemos deduzir que o Canto I começa na noite da quinta-feira santa (quando se acreditava que as posições dos astros seriam as mesmas de quando o mundo foi criado) e termina no início da noite da sexta-feira. Voltar

1.3 A Selva Escura é, segundo a tradutora Dorothy Sayers, uma representação simbólica da perdição no pecado, "onde a confusão é tão grande que a alma não se acha capaz de reencontrar o caminho certo". Uma vez perdido na selva escura, um homem só poderá escapar se, através do uso da razão do intelecto, descer de forma que veja o seu pecado não como um obstáculo externo (as feras), mas como vontade de caos e morte dentro de si (inferno).[Sayers 49] Voltar

1.4 As três feras, na opinião de vários estudiosos, têm sentido figurado e representam três tipos de pecados (que são discutidos no Canto XI) e também três subdivisões do inferno. É uma representação alegórica dos pecados segundo a filosofia de Tomás de Aquino, que influenciou Dante. A incontinência (leopardo), a violência (leão) e a fraude (loba) refletem níveis de gravidade crescentes de acordo com os conhecimentos da pessoa (quanto mais se sabe, mais grave é o pecado). Segundo a tradutora e comentarista Dorothy Sayers, refletem três estágios da vida humana (juventude, meia-idade e velhice). Os pecados cometidos na velhice seriam mais graves pois a alma que os comete é mais experiente e já sabe diferenciar o certo do errado.[Sayers 49]

1.5 Virgílio (70 a 19 a.C.) foi grande poeta da antiguidade e autor de várias obras entre as quais as Geórgicas e a Eneida. Esta última conta a história da fundação de Roma pelo troiano Enéas (veja nota 4.11). Dante conhecia as obras de Virgílio e louva-o por ter influenciado seu estilo poético. De acordo com vários dantólogos, Virgílio também tem um sentido alegórico: simboliza o intelecto, a razão do peregrino Dante (veja nota 1.1). É a razão "que apagada estivera, talvez por excessivo silêncio" que pode guiá-lo para fora da selva escura. Voltar

1.6 O monte, na interpretação de Sayers, "representa no nível místico a ascensão da alma a Deus. No nível moral, é a imagem do arrependimento. Pode ser escalado diretamente pela estrada certa, mas não pela selva selvagem porque ali os pecados da alma são expostos e aparecem como demônios (as feras) com um poder e vontade próprios, impedindo qualquer progresso." [Sayers 49] O monte pode ser uma representação alegórica da montanha do purgatório (veja nota 34.8) que não pode ser escalada pela selva escura. Voltar

1.7 O Lebreiro (L'veltro): Um lebreiro (ou lebréu) é um cão usado para caçar lebres. O Lebreiro mencionado por Virgílio representa algum tipo de redentor ou salvador, mas não é claro se deve ser interpretado como uma pessoa. Já foi objeto de diversas interpretações por vários comentaristas. Para alguns, representa, no sentido figurado, algum líder que resgataria a Itália da situação política em que se encontra. Para outros, representa o estabelecimento de um reino espiritual na terra (a vinda de Cristo que no juízo final levaria a Loba de volta ao inferno). Voltar