Notas explicativas

Canto VII

7.1 Pluto (Plutão, Plutus) é, na mitologia romana, o deus dos mortos (Hades, na mitologia grega), esposo de Proserpina (Perséfone, na mitologia grega). É associado à riqueza que brota do chão. Sua característica de deus infernal da riqueza o coloca de forma adequada no quarto círculo, dos que não souberam lidar com a fortuna. Voltar

7.2 A frase de Pluto: Não há uma interpretação conhecida para a frase pronunciada por Pluto no inicio do sétimo canto, porém, Benvenuto Cellini, na sua descrição da Corte de Justiça de Paris, relata: "as palavras que ouvi o juiz falar, ao ver que dois senhores queriam assistir ao julgamento a todo custo, e que o porteiro estava tendo dificuldades em mantê-los fora, foram estas: 'Paix, paix, Satan, allez, paix' (Silêncio! Silêncio, Satan! Vá, e nos deixe em paz). Nesta época eu conhecia bem a língua francesa e, ao ouvir essas palavras, eu lembrei o que Dante disse, quando ele entrou com seu mestre, Virgílio, nas portas do inferno (Canto III). Dante e Giotto, o pintor, estavam juntos na França e visitaram Paris com atenção, onde a corte de justiça poderia ser considerada o inferno. Portanto é provável que Dante, que semelhantemente dominava a língua francesa, tenha utilizado essa expressão; e me surpreende que ela nunca tenha sido entendida nesse sentido." [Longfellow 67] (Benvenuto Cellini, Roscoe's Memoirs Cap. XXII) Voltar

7.3 Os avaros e pródigos: Seu contrapasso é completar o giro da roda da fortuna que ajudaram a desequilibrar quando viviam. "Suas riquezas materiais se transformaram em grandes pesos que um grupo deve empurrar contra o outro, pois suas atitudes em relação à riqueza foram opostas." [Musa 95] Voltar

7.4 Os pecados contra a fortuna: A avareza, segundo descrição de Santo Agostinho, é a tendência em acumular e valorizar excessivamente coisas materiais. Outros a definem como a posse individual de coisas que a pessoa não precisa, ou que não precisaria ter só para si. Nesses termos, a avareza não se refere apenas a dinheiro ou bens, mas também ao conhecimento e à glória. [Longfellow 67] (de citação de Chaucer) Sendo a avareza um pecado onde se retém coisas materiais, a prodigalidade é o seu oposto, mas sempre em excesso. Pune-se aqui o desperdício, a gastança incontida, que, mesmo não prejudicando quem a pratica (se for pessoa rica), prejudica o equilíbrio das riquezas na sociedade (a roda da fortuna). Por exemplo, optar por pagar mais caro por um produto pode fazer pouca diferença para uma pessoa de posses, dará maior lucro ao vendedor e, numa escala maior, influenciará o mercado a praticar preços mais altos, prejudicando os que não podem pagar mais. A prodigalidade geralmente está associada à ostentação, à necessidade de esbanjar riqueza, de impressionar, etc. Voltar

7.5 A roda da Fortuna: Comentário de Salvatore Viglio (Frei Cassiano): "O tema da Fortuna não era novo. Os pagãos chegaram a endeusá-la e a dedicar-lhe templos. Ela distribui os bens da terra rotativamente por não poderem pertencer todos a todos ao mesmo tempo. Dela dependem o alternar-se de miséria e riqueza, de bem-estar e de penúria por que passam os indivíduos e as nações. É, em outros termos, a Divina Providência que os pagãos chamam de Fortuna. A sua existência explicaria assim o estado de miséria em que vivem freqüentemente os sábios e os bons, destituídos de bens materiais, mas ricos, em compensação, dos tesouros da sabedoria e da virtude." [Viglio 70] Voltar

7.6 "Cada esfera que brilha reflete sobre as outras": refere-se às esferas do Paraíso (os planetas, o sol, a lua e as estrelas). A Fortuna é comparada aos anjos (que cuidam do movimento dos planetas). Voltar

7.7 O Rio Estige (Styx) é um dos rios do inferno clássico. Os outros são o Aqueronte, o Flegetonte, o Letes e o Cócito. O Estige é um rio pantanoso que cerca a cidade de Dite (nota 8.2). É também o quinto círculo onde ficam submersos os iracundos. Voltar

7.8 Os vencidos pela ira são amontoados no rio Estige juntos com seus semelhantes que não conseguiram controlar a raiva. São submetidos assim aos efeitos da ira causados por seus semelhantes, e então se mordem, se batem e se torturam. No fundo do Estige estão os rancorosos que, por nunca terem externado sua ira, não podem subir à superfície e ficam a gorgolar a lama no fundo do rio. Voltar