Notas explicativas

Canto III

3.1 O Portal do Inferno: não tem portas ou cadeados mas somente um aviso sobre a entrada que adverte: uma vez dentro, deve-se abandonar toda a esperança de rever o céu pois de lá não se pode voltar. As almas entram porque querem. "No poema, o inferno está repleto das almas daqueles que morreram com a determinação de entrar naquele portal; na alegoria, essas almas são a imagem do pecado na pessoa ou na sociedade." [Sayers 49]. A alma só tem poder de escolha enquanto viva, portanto, viva se decide pelo céu ou pelo inferno. Depois de morta, perde a capacidade de raciocinar e tomar decisões. Dante não deve temer, diz Virgílio, porque ele ainda está vivo e ainda tem poder de arbítrio. O personagem Dante cruza o portal do inferno na noite de sexta-feira da paixão (veja notas 1.1 e 1.2) pois no início do Canto II, quando Dante escapa das feras, já anoitece. Voltar

3.2 O ante-inferno é chamado também de vestíbulo. Serve como destino para as almas que não podem ir para o céu nem para o inferno. "Sendo o céu e inferno estados onde uma escolha é permanentemente recompensada (de forma positiva ou negativa), deve também existir um estado onde a negação da escolha seja recompensada, uma vez que recusar a escolha é escolher a indecisão." [Sayers 49] O ante-inferno é, portanto, a morada dos indecisos, covardes e que passaram a vida "em cima do muro". Em vida nunca quiseram assumir compromissos, tomar decisões firmes ou fazer qualquer coisa definitiva, por achar que assim perderiam a oportunidade de fazer alguma outra coisa. A sua neutralidade e falta de ação é retribuída na forma de um contrapasso (veja nota 3.3 abaixo) e agora são obrigados a correr atrás de uma bandeira que não vai a lugar algum. [Musa 95]Voltar

3.3 O contrapasso é a retribuição do inferno pelos atos do pecador. Reflete, de forma simbólica, os efeitos do pecado cometido aplicados como punição. Se baseia em uma justiça do tipo "olho-por-olho, dente-por-dente". Voltar

3.4 O Rio Aqueronte (Acheron) é o primeiro dos rios do inferno. Como os outros rios do mundo subterrâneo, este também não foi inventado por Dante. É citado nas obras clássicas de mitologia como a Eneida de Virgílio e a Odisséia de Homero. Voltar

3.5 Caronte (Charon) é o clássico barqueiro dos mortos na mitologia grega. Como a maior parte das figuras mitológicas que aparecem no inferno, Caronte foi tirado das mitologias clássicas. Os monstros do inferno "não são diabos ou almas perdidas, mas as imagens de apetites pervertidos, e vivem nos círculos apropriados à sua natureza." [Sayers 49]. Nas obras da mitologia clássica, Caronte estava encarregado de realizar a travessia de outro rio (o Estige - veja nota 7.7) e só transportava almas que tivessem sido enterradas com uma moeda debaixo da língua com a qual poderiam pagar a travessia.Voltar

3.6 O outro porto é o porto onde um anjo leva as almas que têm esperança para o purgatório. Caronte reconhece que Dante não é uma das almas condenadas e então diz a ele que o caminho dele é outro.Voltar