Notas explicativas

Canto VI

6.1 Os gulosos: O prazer solitário concedido pela gula é ampliado no inferno onde os gulosos jazem solitários na lama, sem comunicação com seus vizinhos. O contrapasso pelo prazer e o conforto de comer alegremente além dos limites quando viviam é o desconforto de uma dolorosa chuva gelada e a presença de Cérbero, que, com seu apetite insaciável, os morde pela eternidade. Voltar

6.2 As almas que sofrem no inferno não têm corpos. Elas apenas mantém a aparência das suas formas corporais. Embora possam ser dilaceradas e assim sofrer torturas físicas, são apenas fantasmas, sem peso. Voltar

6.3 Cérbero (Kerberos) é o cão de três cabeças que guarda a entrada do mundo subterrâneo na mitologia grega. Cérbero deixa qualquer um entrar, mas não deixa quem entrou sair. Poucos heróis conseguiram escapar da guarda de Cérbero. Orfeu (4.15) o hipnotizou com sua lira, Hércules (25.3) o derrotou com as mãos. Na mitologia romana, Enéas (4.11) e Psique conseguiram enganar Cérbero com um pão de mel. Na alegoria do inferno de Dante, ele é a imagem do apetite descontrolado. Voltar

6.4 Ciacco: De acordo com Boccaccio [Sayers 49], é o apelido de um nobre florentino conhecido por sua gula. Ciacco também quer dizer "porco" e é "corruptela de Giacomo" [Mauro 98]. Voltar

6.5 Guelfos: Um dos partidos políticos de Florença que rejeitava o poder do imperador. Representava a classe média. Em Romeu e Julieta (obra de Shakespeare), os Capuletto eram uma família guelfa. Veja mais em Vida de Dante (introdução). Voltar

6.6 Guibelinos: Partido político de Florença aliado ao imperador. Representava a nobreza. Em Romeu e Julieta (obra de Shakespeare), os Montecchio eram guibelinos. Veja mais em Vida de Dante (introdução). Voltar

6.7 Negros e brancos: Os guelfos, na época que Dante fazia parte do governo de Florença, se dividiram em duas facções: os Neri ou guelfos negros - radicais que apoiavam a tirania do papa contra o imperador, e os Bianchi, ou guelfos brancos - moderados que rejeitavam tanto a tirania do papa quando a tirania do imperador. A rixa que dividiu os guelfos começou na cidade de Pistóia por causa de uma discussão familiar. A briga, que provocou a divisão da família Cancelliere, teve início por causa de um assassinato cometido por um jovem chamado Focaccia (nota 32.2), pertencente à família. O Cancelliere original tivera duas esposas. A primeira se chamava Bianca e seus descendentes se apelidaram Bianchi (brancos). Para fazer oposição, os descendentes da segunda esposa decidiram se apelidar Neri (negros). Por ser uma grande família, quase toda a cidade tomou partido por um dos lados. Houve intervenção dos guelfos de Florença para manter a ordem na cidade. Os líderes da revolta foram então presos em Florença na esperança de acabar com a briga em Pistóia. O resultado, porém, foi a extensão do conflito para Florença, onde a família Cerchi decidiu apoiar a causa dos Bianchi contra a família Donati, que ficou do lado dos Neri. Uma insensata briga de rua por causa de um acidente com cavalos em 1300 foi o estopim para a crise em Florença que em pouco tempo contaminou a cidade inteira. Voltar

6.8 Previsões de Ciacco: As previsões de Ciacco falam da luta entre as duas facções em que se dividiu o partido dos guelfos, obrigando Dante a exilar os líderes da revolta (guelfos negros). Ciacco prevê então que alguém (o papa Bonifácio) apoiará os Neri e estes retomarão o poder, banindo de vez os Bianchi de Florença. Voltar

6.9 O papa Bonifácio VIII fingiu neutralidade durante a divisão dos guelfos mas depois traiu a confiança dos líderes de Florença ao apoiar o golpe dos Neri. Veja mais sobre Bonifácio VIII na nota 19.2. Voltar

6.10 Farinata: veja nota 10.1. Voltar

6.11 Tegghiaio e Jacopo Rusticucci: veja nota 16.2. Voltar

6.12 Mosca: veja nota 28.9. Voltar