Notas Explicativas

Canto I

1.1 As estrelas representam as quatro virtudes cardeais: prudência, temperança, justiça e fortaleza. Dante afirma que nenhum ser humano vivo havia visto as estrelas exceto Adão e Eva (o primeiro casal - a prima gente, no original), pois eles viviam no Paraíso terrestre (no cume da montanha do Purgatório). Todos os humanos vivos, acreditava Dante e a maior parte das pessoas da sua época, viviam no hemisfério norte pois o resto da Terra era mar. Dante aparenta ter se esquecido de Ulisses, que ele mesmo afirmara ter viajado até o Purgatório (Inferno XXVI). Alguns comentaristas identificam as quatro estrelas com as estrelas do Cruzeiro do Sul, cuja existência poderia ter sido revelada a Dante através de relatos de viajantes como Marco Polo [Longfellow 67]. Na minha opinião, se Dante soubesse da existência do Cruzeiro do Sul, ele estaria sendo incoerente ao defender que tais estrelas jamais foram vistas por homens vivos. É até possível que ele tenha tido acesso a relatos de viajantes ou mesmo textos antigos que falassem do Cruzeiro do Sul (que já foi visível no Egito e sul da Europa 2500 anos antes de Cristo), mas não creio que Dante os teria considerado "verdade científica." Voltar

1.2 O cego riacho é o rio Letes, cujo som (e não visão) guiou Dante e Virgílio do centro da Terra à superfície (Inferno XXXIV). Voltar

1.3 O velho solitário é Catão de Útica, legista romano aliado a Pompeu que, sabendo que César venceria e fundaria o império, se suicidou em nome da liberdade republicana. Márcia é a esposa de Catão que permanece no Limbo, de onde Catão foi tirado por vontade divina. A luz das quatro estrelas (prudência, temperança, justiça e fortaleza) iluminam Catão, que ainda representa a liberdade, pela qual morreu. Apesar de ter se suicidado e de ser um oponente de César e do Império (como Bruto e Cássio), Catão não está no Inferno. Para Dorothy Sayers "por causa de sua devoção à liberdade política ele aqui é o guardião do caminho à liberdade espiritual." Quando ao suicídio, ela explica "O seu suicídio não o qualifica ao Inferno pois os pagãos são julgados de acordo com seu próprio código, que não condenava o suicídio. Dante não coloca cristãos suicidas no Purgatório ou Paraíso, nem pagãos na parte do Inferno onde são punidos os suicidas." [Sayers 55] Voltar

1.4 Minós é o juiz dos mortos no inferno. Minós não tem poder sobre os habitantes do primeiro círculo do inferno, onde reside Virgílio. Veja Inferno, Canto V e nota 5.2). Voltar

1.5 O rio Aqueronte (no original mal fiume ou "mau rio" - Purgatório I:88) separa o Limbo da entrada do inferno. Veja Inferno, Canto III e nota 3.4. Voltar